Meditação: o desafio da mente

Não te detenhas no passado, não sonhes com o futuro, concentra a tua mente no momento presente.
Buddha


Dhyana, ou meditação, é o sétimo do sistema de oito passos descrito no Yoga Sutra de Patañjali.
No Japão adopta um nome já bem conhecido na nossa cultura, Zen.
Voltar a atenção para dentro de nós.
A consciência do ser.

Decorreram 21 dias de desafio. A calma perdura. A tranquilidade instalou-se.
Parar. Sentir. Ser.
O que tem isto de extraordinário? Aparentemente nada.
No entanto continua a existir alguma estranheza em relação a esta prática. Coisa de quem não tem mais o que fazer senão ficar de pernas cruzadas e olhos fechados aparentemente alheio a tudo e a todos.
Contudo, alguns destes preconceitos estão actualmente a ser questionados por pesquisas científicas sérias, e como vivemos numa sociedade de cépticos na qual tudo o que não for cientificamente comprovado é treta, aqui ficam alguns dados científicos do mais recente estudo publicado na Revista Science.
A Wandering Mind is an Unhappy Mind
Killingsworth, M.A., Gilbert, D.T. Science. 330: 932. 2010.
Este estudo, feito com recurso a uma aplicação para iphone que realizou cerca de 250.000 chamadas aos seus participantes, demonstra que a nossa mente está impregnada, a um nível considerável, pelo "não-presente" e que independentemente dos nossos devaneios serem bons ou maus, uma mente vagueante não nos torna mais felizes. Concluíram que passamos quase metade do tempo em que estamos acordados a pensar sobre outra coisa que não a que está a acontecer no momento presente, e que a perpetuação deste hábito de uma mente vagueante nos torna infelizes.
Dr. Gilbert resumiu, “The heart goes where the head takes it, and neither cares much about the whereabouts of the feet.” . O coração vai onde a cabeça o leva e não lhe interessa para nada o paradeiro dos pés.
A capacidade de pensar em algo que não está a acontecer é uma conquista cognitiva que tem adstrito um custo emocional.
É certo e sabido que os seres humanos passam a vida a contemplar momentos passados e a prever eventos futuros ou então a fantasiar acerca do que nunca irá acontecer. Os nossos pensamentos são de extrema importância quando aprendemos, planeamos e raciocinamos. No entanto, quando estamos apenas a ter verdadeiros devaneios mentais o que nos trará isso de bom? Exceptuando as raras ideias geniais que nos podem surgir nestes momentos, a perpetuação deste padrão de pensamento apenas nos traz falta de energia, stress, ansiedade e verdadeiros ataques de nervos.
Contudo, a ciência limitou-se aqui à constatação de um facto.
Como poderemos nós então alcançar a quietude da nossa mente? Acredito que um dos caminhos será o da meditação.
Mas será que meditar consiste em não pensar em nada? Será este o objectivo? Será isto possível?
Existem demasiadas respostas e muitas delas contraditórias. Mas existem também vários consensos, nomeadamente em relação aos benefícios de uma prática diária regular.
A prática diária de meditação traz-nos calma, ajuda-nos a reduzir a ansiedade e aumentar a capacidade de concentração. Dá-nos uma sensação de bem-estar, tranquilidade e a capacidade de manter a calma, se assim o desejarmos. Mas reduzir a meditação à enumeração dos seus diversos benefícios peca por defeito, já que os verdedeiros benefícios da meditação só podem ser compreendidos quando os experienciamos. E cada um de nós viverá uma experiência diferente. Posso descrever a minha como um novo mundo de sensações, uma maior sensibilidade de todos os sentidos. Talvez isto aconteça porque nos tornamos mais atentos, mais focados e capazes de diminuir a dispersão da mente.
Para quem acha isto tudo muito interessante mas remata dizendo " Isto não serve para mim porque a minha cabeça não pára" apenas posso dizer que talvez a meditação não seja o que imaginam.
Pensava que meditar era ficar parado durante muito tempo numa posição desconfortável e não pensar em nada. Pensava, como muitos, que só assim se atingiriam todos os maravilhosos benefícios que atribuem à prática da meditação.
Não devemos deixar que outros ditem as regras do que é para nós meditar. Somos seres únicos e por isso as nossas experiências são também únicas.
Cabe-nos escolher o que faz sentido para nós.
Estas palavras têm feito sentido para mim...
Sentar numa posição confortável. Respirar fundo. Observar o corpo. Deixar a mente fluir.
Se os pensamentos surgirem é sinal de que estamos vivos! Se nos conseguirmos abstrair deles por um segundo apenas, ou observá-los e deixá-los passar como se fossem nuvens no céu da nossa mente estamos no bom caminho.
Se nos estamos a esforçar já estamos a fazer demasiado.
Com a devida atenção conseguiremos, um dia quem sabe, diminuir a velocidade dos pensamentos e observar um silêncio mental em que o momento presente é vivenciado.
Entretanto, pelo caminho vamos colhendo os benefícios desta prática à medida que eles se vão manifestando nas nossas vidas.

Namaste!

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